quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Bilhete dos hoplitas aos que leem sobre as Portas Quentes com a barriga de fora nas termas de Poços de Caldas

Jacques-Louis David, "Leônidas nas Termópilas", 1814

Bilhete dos hoplitas aos que leem sobre as Portas Quentes com a barriga de fora nas termas de Poços de Caldas


                                            "I was neither at the hot gates
                                            Nor fought in the warm rain"
                                                             T.S. Eliot


Se medos e suas flechas
hão-de escurecer o céu,
ante cissianos, de grevas,
de nós não soa cicio, eco.

As falanges não quebram,
carpos e metacarpos rijos
na lança. Somos hoplitas,
sem mãe, só elmo e terra.

O hóplon contra Xerxes.
A nosso lado Leônidas,
e a seu lado, Dieneces.
Daimon? Lacedemônio.

Aos de Atenas o templo,
a Temístocles, trirremes.
Diz o oráculo em Delfos,
salvo-conduto: madeira.

Mas nós aqui sabemos:
os de Esparta e Tebas,
com os escudos, hemos
de salvar suas festas,

mistérios, sua Elêusis,
para mais tarde Atenas
afundar o Peloponeso,
declarando-nos guerra,

e devastada por doenças
dentro de seus muros,
culpar o seu tagarela,
Sócrates, por sua queda.

Mas isto será no futuro.
Outro inimigo nos ocupa.
A cada povo seu Efialtes.
Ao de hoje, a sua prata.

Nos corpos, agora, óleo.
Mais tarde, há Cartago,
Roma, Paris, Washington.
Fizemos nosso pacto.

Somos meros esqueletos
nas Termópilas. Vocês
aí estão, gordos, lendo,
as luas de mel em termas.

A nós, as Portas Quentes,
mas a vitória em Plateia.
Vocês? Leite morno, Lete
diário, Poços de Caldas.


Espartanos, nesta esfera,
nem terão sua capital.
Atenas deverá dinheiro
a quem ora são bárbaros

vivendo nas florestas
ao norte. Que importa?
Nós escolhemos morte
a ser escravos, servos.

Às vezes resta apenas,
como àqueles gregos,
pentear seus cabelos
e esperar pelos persas.

§

Berlim, 03 de dezembro de 2014, comendo miojo.

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